Jogo duro
A Operação Caçamba, que na semana passada movimentou
os bastidores da política de São Miguel do Oeste, é um sinal dos tempos. Nem só
de Lavajato vivem os políticos e empresários acostumados a se aboletar nos
cofres públicos. Policiais federais, civis e promotores percorreram prefeituras
e empresas, levaram presos alguns envolvidos e coercitivamente algumas pessoas
cujos depoimentos eram necessários. Em São Miguel do Oeste, a operação chegou
na prefeitura e levou documentos do setor de licitações e de compras, relativos
aos anos de 2010, 2011 e 2012.
Susto
O setor de compras e de licitações da prefeitura
estava trabalhando normalmente, quando chegaram os integrantes da Operação
Caçamba. Na hora foi um susto. Afinal, quem trabalha no setor público é telhado
e está sujeito a pedras e bodocadas. As explicações dos investigadores
revelaram que os problemas eram do governo anterior. Sem problemas, nesse caso,
com o governo João Valar. O próprio prefeito acompanhou a ação e explicou aos
policiais que está “fazendo tudo certinho”, ouvindo deles a informação de que
nada tinha a ver com a administração atual.
Documentos
A operação levou documentos relativos a processos
licitatórios e de compras para aprofundar as investigações. A operação começou com
o nome de Patrola, em Tangará, e após uma delação premiada de um empresário,
que abriu o jogo para os promotores do GAECO, foram efetuadas prisões também em
Joaçaba e Chapecó. Agora, já com o nome Caçamba, chegou também ao
Extremo-Oeste. A investigação busca desvendar detalhes da denúncia de fraude em
licitações para compra e reforma de máquinas, onde o empresário delator
informou que pagava propinas de até 35 mil reais em cada serviço para as
prefeituras.
Antiga
A história de prefeitos, secretários e servidores
públicos que cobram propinas pelo serviço de recuperação de máquinas não é
recente e se repete em vários municípios da região. Há muito, um amigo que atua
no setor, me dizia que prefeitos costumavam cobrar propina em todo tipo de
negócio com máquinas. Sem propina, meu amigo não conseguia negociar com algumas
prefeituras. Alguns prefeitos tinham a cara de pau de falar para o empresário
que precisavam de um automóvel novo, em nome do filho ou da esposa, para fechar
o negócio. Outro, avisava quando estava saindo de férias e passava na empresa
para pegar o “caixinha” em dinheiro vivo. Tinha um, já falecido, que vinha a
São Miguel do Oeste, todos os meses, para receber “a sua parte em dinheiro”
numa empresa da cidade.
Outros casos
A região vem sendo sacudida com casos de prefeitos
com os bens indisponíveis, de pessoas condenadas a devolver dinheiro, não
apenas pela compra de máquinas e reformas. A contratação de advogados e
contadores é outro foco importante do Ministério Público. A falta de
cumprimento de horário, a contrapartida em troca do salário, é outro problema,
tanto em prefeituras quanto em câmaras. O emprego é só uma “boquinha” para
afiliados políticos. E a contratação sem concurso, sem teste seletivo, para
cargos que deveriam ser de provimento efetivo também é comum. É tudo irregular
e as promotorias estão fazendo a festa. É bom ficar de olho e fazer as coisas
dentro da lei, para não acabar recebendo visitas inesperadas e desagradáveis.
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